Keno Don Rosa

Keno Don Hugho Rosa nasceu em 29 de Julho de 1951 em Louisville, no Kentuck, EUA. O nome em italiano ele herdou do pai, Hugo Rosa, que emigrou para os EUA ainda criança, partindo de uma pequena vila próxima de Veneza chamada Maniago. Seu primeiro nome é uma adaptação de Chino, a forma como os novos amigos norte-americanos chamavam seu avô Giochino, por causa da dificuldade na pronúncia. Assim, Don Rosa é praticamente xará de outro grande criador dos quadrinhos de humor de origem latina, o argentino Joaquín Salvador Lavado, o Quino.

A irmã mais velha de Keno, Diana, lia e colecionava quadrinhos e foi com sua coleção que ele teve o primeiro contato com as obras de Carl Barks, sua maior paixão desde a infância. Já com seis anos Keno fez seu primeiro desenho de um pato. Keno também absorveu o “espírito de colecionador” da irmã e se tornou ele mesmo um colecionador, com uma personalidade e conhecimento sobre as publicações que contribuiu muito para seu trabalho de autor.

Desde que começou a rabiscar ainda garoto, Keno sempre quis contar uma história por meio dos seus desenhos, inserindo sempre uma fala por meio dos balões. “Eu não estava interessado em desenhar, estava interessado em contar histórias” disse em uma entrevista. “Acho que eu via aquilo como filmes”, relembra.

Na universidade, onde cursou engenharia civil, passou a colaborar com o jornal dos alunos, onde já seguia a risca o estilo de Carl Barks na tira Pertwillaby Papers, uma versão humana do Tio Patinhas. Entre 1971 e 1973, 127 episódios diários escritos e desenhados por Don Rosa foram publicados. Depois de formado, o artista ainda publicaria esta série em fanzines e no jornal local até 1979 enquanto também assinava colunas a respeito de quadrinhos, cinema, televisão e todo tipo de entretenimento. Nesse período desenhou algumas histórias de Pertwillaby Papers no formato comic-book.

Em 1986, depois que viu revistas em quadrinhos com personagens Disney de volta às lojas depois de vários anos, resolveu mostrar ao mundo todo seu amor por estes personagens. Keno ligou para o editor da Galdstone, Byron Erickson, e lhe disse que era o único americano nascido para escrever e desenhar os personagens da Disney nos quadrinhos, e que este era seu destino. No dia seguinte, já estava trabalhando na adaptação de uma antiga história de Pertwillaby para o Tio Patinhas e seus sobrinhos.

Em abril de 1987 chega às lojas “The Son of the Sun”, que se tornou um sucesso. Com a insistência de editora para que produzisse mais, Don Rosa tomou uma séria decisão, de abandonar o emprego na construtora onde trabalhava para receber um terço do salário que tinha fazendo quadrinhos. Ele havia passado muito tempo sem se dedicar tanto ao seu hobby e essa decisão representou a sua transformação em um verdadeiro profissional.

Don Rosa trabalhou para a editora Gladstone por mais dois anos, mas mesmo assim a demanda de serviço que lhe passavam não era suficiente para preencher seu tempo e seu orçamento. Isso, aliado ao fato de que a Disney se negou a devolver-lhe as páginas originais, levou à sua saída da editora. Mesmo sem ter outro emprego garantido, ele se demitiu por não aceitar esse sistema e se negou a trabalhar com a Disney. Um ano depois, descobriu que a editora Egmond tinha reimpresso na Europa seus trabalhos para a Gladstone e queria material inédito. Então, em 1990, mesma época em que a Disney deixava de trabalhar com a Gladstoen, Don Rosa foi trabalhar para a Egmond.

Don Rosa usa várias referencias históricas e geográficas em suas histórias. O artista considera a pesquisa destes detalhes uma parte essencial do seu trabalho de contador de histórias. Para ele, boa parte do desafio está em fazer uma forma de entretenimento interessante a partir de referências reais. Por causa desta peculiaridade, para Don Rosa, o mundo dos Patos criados por Carl Barks tenha uma diferença essencial com relação a outros animais como a turma do Pernalonga ou o Pica-Pau; aqueles personagens possuem personalidade e habitam um mundo que possui uma história própria que está sempre se desenvolvendo.

Esta história tem um lugar mais ou menos determinado no tempo para Don Rosa. O autor procura manter suas criações num ambiente similar à segunda metade dos anos 50. Mesmo que tenha que adaptar alguns anacronismos como a existência de satélites espaciais, a aparência destes objetos ganha um ar de tecnologia da época estipulada pelo autor.

Outra marca registrada de Don Rosa é a inserção da sigla D.U.C.K, sempre no primeiro quadrinho das suas histórias desde “The Son of the Sun”. As letras que formam a palavra “pato” em inglês querem dizer “Dedicated to Unca Carl by Keno” (“Dedicado ao tio Carl por Keno”).

A relação de Don Rosa com o trabalho de Barks é um caso raro na indústria de quadrinhos. Mesmo em segmentos que divulgam muito mais o nome de seus mestres, a seriedade com que Keno pesquisa e interpreta o trabalho de Barks não enconta similar. O olhar do garoto colecionador ainda permanece no processo criativo do artista na forma como ele registra os acontecimentos de décadas de publicação.

Mas diferente do fanboy que acompanha super-heróis e esperneia por qualquer mudança no status quo das revistas, Don Rosa sempre ratificou que não teme contradizer o que Barks ou mesmo ele estabeleceu como “cronologia” dos personagens. O autor destaca a importância de ver os quadrinhos sobretudo como entretenimento e não como fatos históricos.

O trabalho e as declarações de Keno Don Rosa sobre o processo criativo dos quadrinhos pode contribuir muito para a compreensão de como a dita “industria cultural” produz seus frutos ao longo de tanto tempo com a intervenção de sujeitos diferentes. Ainda há muito para ser dito sobre como autores de quadrinhos transformam a criação alheia e principalmente como uma necessidade de mercado ganha uma resposta estética e vice versa.

A descoberta da existencia de vida criativa dentro da linha de produção da Disney é o primero passo. E Keno Don Rosa é um exemplo perfeito de artista para se começar este estudo.


 

 

 

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