Superman: As Quatro Estações

Talvez não exista um personagem tão difícil de se trabalhar quanto o Superman. Tantos anos de história, tanto poder e tanta nobreza tornam difícil para os criadores lidar com o personagem, continuar pensando em histórias novas, interessantes e que funcionem para ele.

Por se tratar de um alienígena com poderes que o colocam no patamar de um deus, algo que sempre se busca é uma tentativa de “humanizá-lo”, muitas vezes mostrando-o de forma mais humana que nós mesmos. Nesse sentido, uma das histórias mais marcantes é As Quatro Estações, de Jeph Loeb e Tim Sale.

Se você só conhece os títulos mensais de Loeb, com certeza vai querer parar o texto aqui por achar que nada de bom pode vir dele. Contudo, vale lembrar que quase sempre que ele faz uma minissérie, principalmente em parceria com Tim Sale, o resultado é muito bom. Portando, dê uma chance para a revista, leia também O longo dia das Bruxas e esqueça as outras coisas ruins que ele possa ter escrito.

Nessa história, Loeb faz um maravilhoso recorte em um ano na vida do Homem de Aço, um ano crítico, quando ele deixa a segurança de Smallville para se mudar para Metrópolis e se tornar o maior herói do mundo.

Você pode não ter superpoderes, pode não estar interessado em salvar o mundo, segurar trens ou voar por aí, contudo, se você já teve que mudar drasticamente sua vida, com certeza vai se identificar com essa história. Quem nunca quebrou a cara e achou que o único caminho era voltar para casa, para que seus pais cuidassem de você novamente? É justamente sobre isso essa revista, sobre amores perdidos, sonhos frustrados e como isso pode afetar até um homem indestrutível.

Clark foi criado pelos Kent para ser o que quisesse. Os valores que aprendeu serviriam tanto para cuidar de uma fazenda quando para ser um símbolo para o resto do mundo. Por causa desses valores, Clark sente uma necessidade de usar seus poderes, de ajudar todo mundo, mas, como diz Lana Lang, para isso ele teria que sair de Smallville. Assim, deixando tudo que conhece e todos que ama para traz, ele vai para Metrópolis, onde se torna um importante repórter e um herói.

Esta postura do herói parece refletir as qualidades citadas por Walter Benjamim no seu texto “O Narrador”. Clark é justamente a combinação entre o fazendeiro e o viajante e, por isso mesmo, uma fonte de histórias e experiências a serem narradas. Talvez por isso também seu ofício de repórter e romancista ganhou mais destaque desde que esta abordagem foi introduzida por John Byrne.

Outro ponto interessante dessa história é o conceito trabalhado com Lex Luthor e o porquê do ódio pelo Superman. Luthor era o cidadão número um, a notícia diária e o centro das atenções de Metrópolis e tudo isso muda quando surge uma nova estrela nos céus. O que Loeb fez foi lapidar a concepção de Marv Wolfman para o personagem, dando-lhe um pouco mais de dramaticidade ao expor melhor o seu ponto de vista.

O plano dele para que Superman sinta uma perda e desapareça é de uma crueldade e uma um genialidade ímpares. Ele consegue abalar o herói no seu verdadeiro ponto fraco, seus sentimentos. Assim, sentindo-se derrotado, incapaz de ajudar os outros como gostaria, Clark volta para Smallville para repensar sua vida. Como não poderia deixar de ser, em um momento de crise, ele redescobre o que é ser herói e porque tem que fazer isso.

Além dessa trama metafórica e envolvente, temos um desenho maravilhoso, sensível, funcional e surpreendente. Sale tem o dom de captar e desenhar o psicológico dos personagens. Para essa história ele consegue de uma forma singular retratar toda a ingenuidade, toda inocência, toda a tristeza de Clark. Ele consegue retratar Luthor não só com crueldade, mas com inveja, como um ser mesquinho. Seu desenho é tão sutil e ao mesmo tempo tão detalhado que não tem como não se impressionar com história.

Para completar a arte, as cores de Bjarne Hansen estão fabulosas. Ele faz um trabalho com tons pastéis que transmitem a idéia de uma calma e de uma sutil passagem das estações.

Não tem como negar. Esse é um verdadeiro clássico dos quadrinhos. Uma história que vai emocionar mesmo quem não lê histórias fantásticas de heróis. Uma história que será muito importante naqueles momentos críticos da vida, principalmente dos jovens, quando nos sentimos tão perdidos, tão diferentes de todo resto do mundo, quando somos o último de nossa espécie.


(Esse texto é parte integrante da nossa série A Revolução Pop Escolar: Propostas para uma Nova Biblioteca)


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